O jornalismo digital do poder público

Coluna do jornalista Sérgio Lerrer para o Pro Legislativo. 

As organizações e práticas do exercício profissional de comunicação vem sendo pressionadas a acelerar de todas as formas a sua transição ao digital. O digital não é mais – há muito tempo – a chamada plataforma complementar, tendo passado de direito e de fato ao papel de primeira plataforma de publicação.

Na China existem mais de 1 milhão de antenas de celulares e de dados espalhadas pelo país possibilitando o acesso à internet.  No Brasil temos apenas 90.000 antenas e mesmo assim 75% das pessoas pertencentes às gerações que compõem a economia ativa tem no digital seu principal e primeiro meio de informação. Assim é notória a necessidade de cada publicação e cada setor achar o seu novo modo nativo e próprio de ter sua identidade na publicação digital.

Igualmente o setor público e suas assessorias de imprensa e comunicação. Mas qual seria esse “modo nativo” e que tivesse compatibilidade com o usuário atual mundial da internet ?

Não existem respostas certas, mas existem caminhos certos para este modo nativo.

A primeira questão é de timing. O mundo digital não tolera e desqualifica a informação que chega atrasada. Quando uma notícia chega atrasada é como se a estrutura que a produziu fosse de segunda mão, segunda linha, preguiçosa ou dispensável.  Então não tem jeito, é necessário gerar o conteúdo de forma quase automática e simultânea aos acontecimentos. Tem mais reputação quem solta a notícia primeiro.  Quem solta depois tem relevância muito menor.

A segunda questão é o controle do tom e, digamos assim, da estética da informação.  Diz respeito ao vocabulário e ao melhor entendimento da informação que vamos soltar. Só temos uma chance de soltar adequadamente, porque depois de colocada no mundo digital perdemos o controle. Assim, temos de ver se o que vamos comunicar está inteligível, protege nossa versão, tem os dados compatíveis e não gera conflitos desnecessários.

A terceira questão é usar seus meios e espaços como jornalismo municiador de sua causa. Ou seja, não dá para esperar que a imprensa em geral ou os outros venham a desenvolver matérias ou reportagens que justifiquem  as suas ações.  É necessário produzir sua própria matéria e reportagem sobre medidas tomadas pelo poder público que precisem ser melhor compreendidas. Podem ser usados vídeos, textos, infográficos, levantamento de dados, etc.. Assim qualquer medida que o poder público tenha tomado poderá ser analisada sob o prisma da conjuntura que a determinou.

O uso do vídeo passou a ser determinante também como telejornalismo de web para o poder público. O Vídeo permite a fala sem cortes e completa dos agentes públicos, no tom correto, na fala direta e franca com o cidadão sem intermediários e em um alcance de pessoalidade e humanização que é muito difícil ser expressado via texto.  As ênfases são tudo….   E claro, nada de vídeos oficialescos, chapa-branca, posados, e sim captados na mobilidade,  quando o agente público, vereador, prefeito, gestor, secretário, etc, está em “flagrante” de trabalho.

Esses são alguns pontos iniciais que coloco do chamado novo jornalismo digital para o poder público conseguir fazer sua transição e adaptação à nova gramática e novas formas de expressão de entendimento geradas pela internet.  São novos formatos e novas cadências.  Ou aceitamos ou a comunicação fica confinada e protocolar. Aí quem perde e se apequena é a razão política do poder público que deixa de ter a legitimidade necessária dada pela sociedade.

Esse tema abordarei novamente em breve com outros pontos que são requisitos básicos para o novo jornalismo digital no poder público.

Sérgio Lerrer é especialista em comunicação legislativa e Publisher do Pro Legislativo.

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