Fórum mundial no Brasil debateu papel da mulher na transformação social

Woman Brazil

O Women’s Forum for the Economy and the Society reuniu em São Paulo mais de 500 participantes para debater o papel da mulher nas relações sociais e econômicas.

A plataforma global coloca em foco os avanços das mulheres na América Latina e também como deverá ser o protagonismo feminino nos grandes eventos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas.

Em entrevista concedida ao site do Empreendedor Social, a presidente do evento, Veronique Morali, conta as expectativas do encontro deste ano. Para ela, as mulheres são “uma minoria crescente” no empreendedorismo social, “mas que está ativa e fazendo transformações”.
Presa

Redação: Qual foi o tema central do Women’s Forum Brazil?

Veronique Morali: O tema é ‘Fazendo a Diferença’, porque acreditamos que, agora, há um momento crucial na transformação do Brasil, em que as mulheres podem ter um impacto real sobre a economia e sobre a sociedade.
Há muitas transformações positivas em andamento, como, por exemplo, uma mulher exercendo um cargo de presidente, além de um número impressionante de mulheres poderosas no governo e em corporações; um crescimento econômico inteligente, que não só gerou riqueza, mas, também, uma sociedade muito mais
inclusiva, em um país que pode ser considerado um dos maiores caldeirões étnicos do mundo. Nesse tipo de contexto, cada um de nós pode tentar realmente fazer a diferença.

Qual o papel dos homens em um fórum de mulheres?

O Women’s Forum não é contra homens de qualquer forma, e muitos homens estão presentes em todos os nossos eventos e reuniões. Nosso fórum é sobre a criação de espaços nos quais as mulheres podem exercer mais escolhas e desenvolver uma voz mais forte. Muitos homens – talvez a maioria dos homens – perceberão que as mulheres são hábeis e talentosas. Eles sabem que é do
interesse de todos que as mulheres desenvolvam suas habilidades para participar plenamente como agentes na transformação econômica e social.

As mulheres conseguiram conquistar mais espaço no alto escalão das grandes corporações e dos órgãos overnamentais no mundo? E no Brasil? Há pesquisas que comprovam?

Em todo o mundo, as sociedades estão se tornando mais justas. As meninas estão mais propensas a irem para a escola agora, e as mulheres estão mais propensas a frequentarem a universidade, pois é mais provável conseguir bons empregos ou receber assistência na criação de suas empresas. As mulheres brasileiras, como as mulheres de todo o mundo, lidam com uma série de paradoxos. Elas são aproximadamente 14% das gestoras das 500 maiores empresas do Brasil, e isso está longe de ser a metade, mas não é ruim em comparação com uma série de países europeus. No entanto, apenas 4,4% dos membros dos órgãos de fiscalização brasileiros e comitês executivos são mulheres, por isso estamos claramente diante de um cenário que dificulta a trajetória das mulheres até o topo.
A situação está mudando rapidamente e um dos nossos objetivos no Women’s Forum Brazil é ajudar as mulheres brasileiras a se prepararem para estarem na alta liderança das empresas.

Quais obstáculos as mulheres ainda enfrentam no comando das grandes corporações? Ganham menos? Sofrem preconceito? Não conseguem conciliar carreira e filhos?

Cada situação é única, mas, sim, existe uma grande diferença salarial entre homens e mulheres que não se justifica por diferenças em habilidades ou educação. E essa é uma tradução financeira clara de uma situação em que as mulheres enfrentam mais obstáculos do que os homens.

O equilíbrio entre trabalho e família é um tema interessante porque ele realmente deve ser uma pergunta para qualquer ser humano: como qualquer um de nós decide sobre a forma como vai alocar seu tempo, sua energia e seus recursos?

Mas pensamos nisso apenas como questões referentes às mulheres, como se os homens fossem menos responsáveis ou menos interessados em seus filhos do que as mulheres.
Eu não acho que isso seja verdade, eu acho que é um hábito. E há muitas maneiras de as empresas ajudarem homens e mulheres a equilibrar vida familiar e carreira. E as empresas que fazem isso não estão agindo apenas a partir de um senso de justiça. É porque as mulheres têm fortes habilidades, e a empresa não quer perder essas habilidades. Nenhuma empresa e nenhum país pode se dar ao luxo de cortar metade da sua base de talentos.

Você defende uma legislação no Brasil para mudar esse cenário. Por quê? Como seria? Igual a da França? Seria uma espécie de Lei de Cotas para mulheres no alto escalão?

Vamos olhar para as empresas em primeiro lugar. Eu acho que as cotas são uma péssima ideia, mas, vendo apenas 4% das mulheres nos conselhos, é uma ideia ainda mais terrível! Há uma enorme e irracional resistência a mudança em todo tipo de instituição. As pessoas querem trabalhar com outras pessoas que são como elas: esse é um reflexo do clube dos antigos meninos e isso explica por que as instituições ainda são muito atenciosas e acolhedoras, permanecendo assim limitadas em sua diversidade. Existe o preconceito inconsciente de todos nós no sentido de rejeitarmos pessoas que se pareçam desconhecidas. Para mim, as cotas são a melhor solução possível, contanto que elas sejam temporárias. Elas forçam a mudança. Uma vez que a mudança tenha sido feita, a sociedade irá ajustar – e quotas não serão mais necessárias.
Em termos governamentais, a França tem uma lei que exige um número igual de homens e mulheres candidatos em muitas disputas eleitorais. O objetivo é garantir a representação igual de homens e mulheres na política. Mas os eleitores são livres para escolher quem eles querem, e não há exigência de certo número de mulheres no governo.
A lei da paridade tem atraído o apoio de cidadãos franceses -63% das pessoas entrevistadas disseram que a lei proporcionaria uma melhor escolha dos candidatos e irá resultar em uma melhor gestão. Então, os homens, assim como as mulheres, apoiaram a lei.

Qual o papel das mulheres no empreendedorismo socioambiental? Elas são minoria ou maioria em organizações não-governamentais do mundo?

Para as organizações não-governamentais, eu acho que as mulheres tendem a ser maioria. Em termos de empreendedores sociais, é provavelmente uma minoria crescente. Uma minoria que está ativa e fazendo transformações.

O investimento social e ambiental está na pauta das grandes corporações? Há abordagens inovadoras sendo desenvolvidas no Brasil e no exterior?

Cada vez mais, as empresas estão começando a entender que elas precisam ir além do objetivo de maximizar benefícios para os acionistas. Elas precisam desenvolver uma visão que abrange todas as partes interessadas – colaboradores, fornecedores, clientes, bairros e toda a sociedade em que trabalham. Quando o tecido social é saudável, seguro e confiável, e as pessoas sentem, todos se beneficiam.

A Force Femme vai atuar no Brasil?

Vamos ver! Vamos dar um passo de cada vez.

Fonte: Portal Empreendedor Social

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