“Eu não conseguiria exercer meu mandato sem internet”, diz a deputada Mara Gabrilli

“Não consigo trabalhar sem internet”, diz Mara Gabrilli. A deputada federal usa o Facebook para atender demandas de seu gabinete. Foto: Gustavo Scatena/Imagem Paulista para o Instituto Olga Kos/Divulgação
“Não consigo trabalhar sem internet”, diz Mara Gabrilli. A deputada federal usa o Facebook para atender demandas de seu gabinete.
Foto: Gustavo Scatena/Imagem Paulista para o Instituto Olga Kos/Divulgação

A primeira mulher tetraplégica eleita para um cargo na Câmara dos Deputados do Brasil tem 46 anos e consegue mover apenas do pescoço para cima desde que sofreu um acidente de carro há 18 anos. “A barreira mais intransponível é a da cabeça”, afirma Mara Gabrilli, que aproveitou que a sua estava sobre um pescoço com movimentos e não tinha limites para superar não apenas as suas dificuldades, mas como de todos os quase 160 mil eleitores que a elegeram como deputada federal por São Paulo. Nesta entrevista exclusiva ao portal PRO LEGISLATIVO, ela revela como é a rotina de uma cadeirante na maior casa legislativa do País e suas impressões sobre a acessibilidade dos portadores de deficiência ao poder legislativo.

PRO LEGISLATIVO: Em 2010, quando foi eleita, a senhora concedeu uma entrevista dizendo que a Câmara teve que fazer algumas reformas para melhorar a acessibilidade de cadeirantes o que possibilitou o seu acesso ao plenário, mas era impossível chegar à mesa diretora. Passados quatro anos, como está a situação?

MARA GABRILLI: Eles começaram a reforma sexta-feira passada. Vão quebrar o plenário inteiro e serão três meses de obra para ter acesso à mesa direiora. Considero isso lindo, emocionante.

PRO LEGISLATIVO: Em 2010, as 645 câmaras municipais do Estado de São Paulo foram procurados por pesquisadores do seu instituto, que constataram que há apenas 80 vereadores com algum tipo de deficiência, em 75 cidades o que representa, em números percentuais, 1,5% dos legisladores paulistas em somente 11,5% dos municípios. Como a senhora avalia isso?

MARA GABRILLI: Para alguns pode até parecer pouco, mas acho muito. As pessoas com deficiência ficaram muito tempo excluídas, sem saúde, educação, falta de acessibilidade, cidades sem condições de mobilidade. A infraestrutura nunca foi preparada para receber estas pessoas. Quando vemos estas pessoas despontando na política podemos entender que elas resolveram antes vários outros seus problemas para conseguir chegar lá e estão dispostas a resolver os problemas dos outros. Para mim, é um avanço gigantesco. Em Catalão (GO), temos o Pedro Henrique Macedo Silva (PSD), um vereador surdo. Não há barreira que um deficiente não possa ultrapassar, a única barreira intransponível está na cabeça das pessoas.

PRO LEGISLATIVO: Em sua vivência como mulher e portadora de deficiência, como a senhora vê a questão de gênero e dos deficientes na política?

MARA GABRILLI: Se você vai hoje em qualquer periferia, as maiores lideranças nas comunidades são mulheres. Acredito que é uma mudança gradual e que o mais importante seria que estas mulheres se inserissem em cursos de políticas públicas para ter mais confiança em si mesmas. Os partidos podem oferecer mais estes cursos. A pessoa com deficiência também pode passar pelo mesmo processo e é muito importante pois normalmente há a sensibilidade para poder captar questões relativas não apenas aos deficientes e sim para todas outras formas para propor soluções em larga escala.

PRO LEGISLATIVO: Como a senhora disse, as cidades não possuem infraestrutura adequada para pessoas com mobilidade reduzida. A senhora já se sentiu prejudicada por isso durante o exercício do seu mandato?

MARA GABRILLI: Eu estou tão acostumada com isso que não consigo mais enumerar uma situação em que encontrei um degrau, por exemplo. Claro que há atividades em que não dá para ir, mas faz parte e estou aqui para isso, para mudar esta situação.

PRO LEGISLATIVO: Nosso portal está fomentando um evento nacional que acontecerá no dia 10 de setembro em São Paulo, “Internet Legislativa”. Como a senhora qualifica a importância da internet em seu mandato?

MARA GABRILLI: Acredito que as redes sociais funcionam muito. Quando comecei meu mandato de deputada federal, em 2010, o que mais usava era e-mail. Hoje atendo mais demandas por Facebook, são muitos menos e-mails. Isso foi mudando com a própria necessidade que se impôs.

PRO LEGISLATIVO: A senhora acredita que hoje o legislador tem que estar na rede?

MARA GABRILLI: Cada um tem a sua forma de trabalhar e não vejo que podemos medir a produtividade pelos seus acessos, por exemplo. Tudo depende da forma como a internet é usada: não adianta nada ter uma página com milhões de seguidores mas esta ser inerte, sem dialogar com os internautas, não responder nada para ninguém. Mas eu conheço muitos deputados que não têm nem Facebook, por exemplo. Não posso criticar quem não use, dizer que a pessoa não trabalha, certamente o deputado encontra outra maneira de trabalhar. Mas eu não conseguiria viver sem: o meu mandato é dominado pela tecnologia. Pode se usar a internet ou não, mas na minha opinião é fundamental ter o contato com o cidadão desta maneira online.

 

 

Por Ivy Farias

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *