Cuidados da comunicação legislativa em ano eleitoral deveriam ser os mesmos de sempre
Coluna do jornalista Sérgio Lerrer para o Pro Legislativo.
Quando chega ano eleitoral surge uma celeuma e muito burburinho do que pode, e do que não pode ser feito, e o que eventualmente deva ser mudado. Há uma verdadeira “corrida” atrás de informações e qualificação.
A impressão que fica é que, por preocupação própria dos profissionais de comunicação do setor, ou por parte de vereadores e mesa diretora, instala-se um certo pânico de até onde as coisas podem ser feitas.
Sinceramente, parece que essa preocupação “efeito manada” está à espreita do que não se pode deixar transgredir, ou então, até onde a comunicação da casa legislativa pode ser explorada legalmente para esta ou aquela candidatura. Seja por um motivo ou outro, no ano eleitoral perde-se a confiança assentada sobre o que NÃO poderia ser feito, para ver até onde poderia ser feito…sem deixar problemas e rastros.
Infelizmente na dúvida, Mesas Diretoras receosas desta disputa do que pode e do que não pode, e pela competição por espaço em seus meios de comunicação pelos vereadores, ou pela fiscalização do Ministério Público e Tribunais de Conta, ou a mercê de denúncias da oposição, prefere tirar sites do ar ou congelar qualquer atualização.
Quem perde com isso ? O cidadão, aquele que está pagando essa conta toda e considera que, permanecendo as publicações, aí sim significa que nada está ocorrendo de errado. Porquê tirar do ar site, ou não publicar nada durante o período eleitoral, pode significar transparência zero e sinal de fumaça sobre o que pode estar ocorrendo de errado e escondido…
Do meu ponto de vista nada deveria mudar na comunicação no período eleitoral. As obrigações éticas, morais e financeiras do legislativo municipal, e de cada mandato de vereador prosseguem normalmente até o último dia de vigência da legislatura, do mesmo jeito que no primeiro dia…e durante todo os anos…
Entre elas:
- Responsabilidade sobre falas no plenário / nas sessões é do Vereador
- As publicações no site e redes sociais da Câmara Municipal devem ser exclusivamente do trabalho feito dentro da estrutura do legislativo
- Em hipótese alguma a comunicação do legislativo municipal deve fazer posts do exercício do mandato pessoal do vereador em suas incursões fora da Câmara Municipal
- Não deve ser propagandeada nenhuma atividade que seja de rotina e dos compromissos básicos
- A gestão da casa nunca deve ser ressaltada. Mas se algo for feito de mudanças, deve ser informado jornalísticamente e nunca através de anúncio
- O que interessa no fato é o ocorrido, portanto adjetivos são dispensáveis…
- Deve-se separar o que é propaganda e o que é jornalismo. Informação não pode vir na forma de “arte e design”.
- Deve-se investir financeiramente na comunicação sempre, sem abusos, mas de forma sequencial, pois é o canal de relacionamento com o cidadão e a sociedade, independentemente de época.
- O que interessa nas noticias publicadas é o FATO, como ensina o jornalismo, e QUEM é complemento. Vereador não pode ser a estrela da notícia, isso ele tem que fazer na rede social dele. A foto do Vereador ilustrar, faz parte. Mas o nome dele não pode vir na frente do fato.
- Se não fez novos contratos de comunicação e publicidade nos 3 anos anteriores, vai fazer no último ano ?
- Criar programas de debates e de opinião dos vereadores, como tem na Tv Senado e Tv Câmara dos Deputados, é muito bom e recomendado. Mas não no ano eleitoral, certo ? Por que não criou antes ? Antes servia a população, agora é de interesse de visibilidade dos vereadores por motivo eleitoral ? Não subestime a inteligência do público e da fiscalização…
Tem muito “esperto” em ano eleitoral. Fica todo mandato com receio de aparecer demais, de ser visto, e de ser cobrado ou lembrado do que fez ou deixou de fazer… Não aparece assim quando deveria aparecer, pelo trabalho legislativo e pelo debate público, e resolve buscar brechas na comunicação do poder público para parecer, na reta final,o que não foi durante todos os anos parlamentares….
Sérgio Lerrer é especialista em comunicação legislativa e Publisher do Pro Legislativo.