A comunicação da sociedade conectada: a comunicação de advocacy

Qualquer um pode ser cancelado a qualquer instante. Uma opinião, uma pessoa, uma marca, uma iniciativa. Basta para isso uma impropriedade, uma conotação menos pensada,  decorrente de uma ação ou declaração, ou ainda, uma exposição de individualismo, quando o mundo e a sociedade esperam visão coletiva e inclusiva.

Essa acelerada transição de como as pessoas fazem juízo sobre tudo, e todos, está determinando um novo mundo também para os critérios do exercício da comunicação.

Vejamos:

01. Informação parcial e com omissões é contra-comunicação. Basta ver caso do programa Fantástico e do Dr Draúsio Varela.  A ausência de uma informação, sobre um dos personagens em questão, afetou totalmente o julgamento das pessoas. Retirou delas o arbítrio de poder fazer o julgamento da reportagem por conta própria.  Então, ao invés de influenciar como desejavam as pessoas, pela sensibilidade sobre os presidiários ou causa trans, o efeito foi contrário e o rótulo de manipulação evidente.

02. Mensagem Ganha – Ganha.  A sociedade não aceita mais celebração de vantagens exclusivas de um determinado grupo, determinada classe profissional, mesmo que usando a legalidade ou o sistema político atual. Para ser meritocrático, uma vantagem e um ganho precisam deixar um saldo para todos, um avanço, um ganho, uma melhoria. Caso contrário é melhor não celebrar em público ou propagandear.

03. Mensagem “Cavalo de Tróia”.  É aquela comunicação em que é feito alerta sobre um risco, um perigo, uma provável mudança, que vai afetar determinado grupo, marca ou interesse, e que é generalizada como se, de imediato, fosse afetar toda sociedade, indústria ou sistema político. É o famoso “aumento mas não invento” para impactar as pessoas, reter a atenção delas, através do apavoramento, da abordagem apocalíptica. Péssima para a reputação e credibilidade de quem emite esse tipo de comunicação.

A comunicação multiplicadora:

01. É aquela que pode fluir em rede. Que aborda aspectos inclusivos para diversos públicos, sem anular outros, criando assim aliados interessados que passam a novos aliados, estabelecendo uma rede, um canal para navegação da informação.

02. Aquela que cristaliza transparência, mesmo que isso signifique assumir pontos de risco do que fala, de juízo ainda não definitivo, de tolerância com outras hipóteses. É a comunicação que compartilha, que divide algumas certezas, mas ainda não elimina e nem esconde duas dúvidas.

03. Aquela que define um ponto futuro, um avanço, um passo novo e a mais, que supere o momento atual, partilhando com as pessoas uma visão de mudança, de poder partilhar algo melhor com todos e de benefício e conveniência a todos.

A COMUNICAÇÃO DE ADVOCACY

A propaganda como conhecemos no passado colapsou.  Hoje a boa publicidade que resiste é a informativa, prestadora de serviços, ou então, de oportunidade. Mas a publicidade de persuasão, de construir critério de valor, está colapsada. Basicamente porque as pessoas tem as informações, ou trocam as informações, e fazem seu próprio juízo em segundos, tornando a propaganda plasticamente construída ridícula, ou enganosa, ou mistificadora. E a publicidade convive com a necessidade de ser parcial a favor disso ou daquilo, ou seja, tem um problema a resolver em seu DNA.

Por outro lado, a sociedade conectada é aquela que abriu espaço de opinião a cada indivíduo, e todos, de forma direta ou indireta, passaram a valorizar esse potencial novo. Seja para emitir opinião política, seja para reclamar de uma decepção como consumidores, seja para cancelar alguém, seja para espalhar memes em seus dias de ira ou deboche. É irreversível.

Portanto, todo esse conjunto passou a ser um terreno pantanoso para a comunicação e as mensagens fluirem. São diversos os obstáculos, são diversas as surpresas, e comunicar , em meios interativos e multidirecionais, passou a ser literalmente sujeitar a estar exposto.

Justamente para estar exposto de forma adequada, e ao mesmo tempo ter um programa de ação proativo e reativo, ficou fortalecido nos dias de hoje o que penso ser a Comunicação de Advoacy, caracterizada por:

  • Comunicação que não esconde lado
  • Comunicação que expõe contraditórios
  • Comunicação que não aumenta e nem superdimensiona aspectos
  • Comunicação que busca dados
  • Comunicação que se dedica a coletar base técnica
  • Comunicação que oferece contexto
  • Comunicação que aponta caminhos
  • Comunicação que busca aderência pela construção e não pelo desfavorecimento de outros
  • Comunicação bilateral e multilateral: cria agenda para ouvir outros lados
  • Comunicação que procura liderar pela melhor informação
  • Comunicação que evita a omissão

Esses são alguns aspectos da Comunicação por Advocacy. Uma abordagem que está sendo trabalhada por bons profissionais interessados em administrar melhor a relação entre qualquer mensagem emitida e sociedade, seja no âmbito político, parlamentar, público ou de consumo.

 

Sérgio Lerrer é especialista em comunicação legislativa e Publisher do Pro Legislativo.

 

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